Embarcando na Primeira Estação

O ponto de partida é Bahnhof#0; aperte os botões corretos e boa jornada pelo tempo.

quinta-feira, julho 23, 2009

Bahnhof#2 - Uma linda mulher

de: 1941
para: novembro 1963

O prédio público que serve de depósito de livros está praticamente vazio. Isso significa bastante papel para ser roído.

Estou no parapeito da janela central do 6ª andar e o dia está lindo em Dallas.
À minha esquerda, um rapaz chamado Lee, olha com atenção a paisagem pintada de asfalto, pessoas e verde do parque.

À direita, um jovem Stan trêmulo e na última janela, o veterano conhecido por Mister Gun de óculos e boné. Lembra até um pouco o professor Manrat. Todos estão armados e prontos para dar um tiro apenas cada um.

No andar de baixo, mais duas janelas preenchidas com atiradores de elite. Desconheço o nome deles. Todos olham a avenida. Nas calçadas, a pequena multidão de senhoras, estudantes de bandeirinhas americanas na mão, esperam o reluzente conversível dobrar a esquina.

Surge o carro.
O casal cumprimenta a todos com um sorriso presidencial.
Os homens no prédio se posicionam e ignoram a minha presença.
A fome aperta mas vou aguardar o desenrolar da trama pois sinto que algo de ruim irá acontecer. Me lembra os dias após a invasão da Polonia.
Por que nesses momentos ninguém aparecerá para impedir a tragédia ? Onde se esconde a raça humana em situações tristes ?

Tomo um susto quando disparam sincronizados em direção ao banco de trás do carro oficial.
Tres tiros acertam o presidente.

Se afastam das janelas em silêncio tenso.
Mister Gun ordena que Lee deixe sua arma italiana perto da janela (para que ?) e que saia discretamente para a rua.
- Vá se esconder no cinema como se nada tivesse acontecido, ok ?
Os outros atiradores permanecem e reunem-se no andar debaixo. Ficam aguardando ordens superiores. Silêncio total. No 6º andar, no prédio, no meu estomago, em Dallas .

Substituo a imagem ensaiada do ballet dos homens atirando, pelo da mulher elegante e desesperada, recolhendo fragmentos do corpo do marido enquanto o carro preto dispara pela avenida.

Mudam os países, os idiomas, os personagens, a dimensão dos acontecimentos, mas a violência é característica dos homens. Eu não sou assim. Os meses em laboratório alimentado com drogas que nunca consegui evitar me deixaram mais tranquilo a esse tipo de reação selvagem. Só tenho fome. Vou até a caixa dos livros no canto do 6º andar para roer algo que me sirva.

Depois de saciado, irei partir com a imagem daquela lmulher.
Uma bela viúva desejável vestida de rosa-sangue.
O primeiro botão é vermelho.
Despois branco e depois azul.

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