
para: 1656
O cachorro não pára de olhar para mim.
Fixo o meu olhar nele também.
Tenho medo.
Sei que na sala ao lado fica a despensa da comida e vou conseguir o que preciso, mas para isso, tenho que ir até lá e passar pelo cachorro que parece tranquilo para os outros, mas não tira os olhos de mim. Preciso ter atenção.
Ao fundo, no vão da escada, o homem me assiste sem me importunar. Ele sabe da minha presença inesperada no lugar. Lembra o rosto do Prof. Manrat.
Atrás de mim o casal real olha a cena familiar. Posso vê-los no espelho.
Os cabelos da infanta Margarida são fios de ouro ondulados e inebriantes. As anãs fazem pose sem parecerem bobas da corte.
Velasquez poderia dar um tempo na sua arte para que todos se movimentassem e esse cão sumisse da minha frente. Acho que não vou conseguir nada para comer por aqui.
Apenas contemplar essa cena maravilhosa e inesquecível, digna de uma sala especial de um museu no futuro.
Só poderia considerá-la uma obra prima se conseguisse pegar um resto de bolo, mas...