Embarcando na Primeira Estação

O ponto de partida é Bahnhof#0; aperte os botões corretos e boa jornada pelo tempo.

terça-feira, agosto 11, 2009

Bahnhof#6 - Mensageiro das Estrelas

de: 2002
para: 1579

Resolvi mudar de século, mas não de país. Permanecerei na Itália para não perder os timbres de Enio.

O salto de centenas de anos me deixa sem condições de raciocínio. Fico quase 15 minutos em transe indesejável.
Desperto e disparo pelas ruelas da cidade.

Passeio pela instabilidade do solo arenoso de Pisa e ligo as paredes das casas rapido e silenciosamente. Procuro por alimentação. Encontro com facilidade.

Quando estou cansado ou com fome, lembro de Prof. Manrat. Onde estará ? Mistura de saudade e despreparo emocional para essa navegação temporal.
A torre liga a terra ao céu. Canal entre o fato e o divino.

Olho as estrelas radiantes que cortejam a destemida lua cheia que por sua vez banha a Praça dos Milagres sem pressa ao longo da noite. As noites escuras são mais longas. A lua acha que não será desvendada tão cedo. Tolice.

Sobre a sombra da torre, já torta desde meados do século 12, o filho de Vincenzo, um menino iluminado, observa o céu. Fecha os dedos tocando a palma formando um círculo com a mão e coloca sobre os olhos para ver melhor o céu escuro e suas nuances.
Olho seu silêncio genial.
Está extasiado pelas descobertas celestiais.

Fico pensando: quando Galileu crescer, irá contestar Aristóteles, construir a primeira luneta astronômica, apoiar Copérnico e enfrentar a inquisição, simplesmente porque parou para contemplar a bola branca enorme no manto escuro da noite ?

Percebo que a criança será o verdadeiro Sidereus Nuntius (Mensageiro das Estrelas) de toda a humanidade. E ele sabe disso. Abaixa as mãos, rabisca inúmeros números no chão como se fosse uma romance sem fim. A matemática para Galileu é o alfabeto com que Deus escreveu o universo.

Olha para o céu, para o chão, diversas vezes, sorrindo em minha direção, fala:

- Não me sinto obrigado a acreditar que o mesmo Deus que me dotou de sentidos, razão e intelecto, pretenda que eu não os utilize.

Antes que ele os utilizasse em me capturar, corro sob o luar em direção ao rio, sem olhar para trás ou para as estrelas. Nas margens do rio tem sempre resto de comida.

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