
de: 2002
para: 1579
Resolvi mudar de século, mas não de país. Permanecerei na Itália para não perder os timbres de Enio.
O salto de centenas de anos me deixa sem condições de raciocínio. Fico quase 15 minutos em transe indesejável.
Desperto e disparo pelas ruelas da cidade.
Passeio pela instabilidade do solo arenoso de Pisa e ligo as paredes das casas rapido e silenciosamente. Procuro por alimentação. Encontro com facilidade.
Quando estou cansado ou com fome, lembro de Prof. Manrat. Onde estará ? Mistura de saudade e despreparo emocional para essa navegação temporal.
A
torre liga a terra ao céu. Canal entre o fato e o divino.
Olho as estrelas radiantes que cortejam a destemida lua cheia que por sua vez banha a Praça dos Milagres sem pressa ao longo da noite. As noites escuras são mais longas. A lua acha que não será desvendada tão cedo. Tolice.
Sobre a sombra da torre, já
torta desde meados do século 12, o filho de Vincenzo, um menino iluminado, observa o céu. Fecha os dedos tocando a palma formando um círculo com a mão e coloca sobre os olhos para ver melhor o céu escuro e suas nuances.
Olho seu silêncio genial.
Está extasiado pelas descobertas celestiais.
Percebo que a criança será o verdadeiro Sidereus Nuntius (
Mensageiro das Estrelas) de toda a humanidade. E ele sabe disso. Abaixa as mãos, rabisca inúmeros números no chão como se fosse uma romance sem fim. A matemática para
Galileu é o alfabeto com que Deus escreveu o universo.
Olha para o céu, para o chão, diversas vezes, sorrindo em minha direção, fala:
- Não me sinto obrigado a acreditar que o mesmo Deus que me dotou de sentidos, razão e intelecto, pretenda que eu não os utilize.
Antes que ele os utilizasse em me capturar, corro sob o luar em direção ao rio, sem olhar para trás ou para as estrelas. Nas margens do rio tem sempre resto de comida.